Polícia Militar de Rondônia

Diretora do CTPM defende em tese de mestrado experiência bem sucedida no Colégio Tiradentes de Jacy-Paraná

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Em 2013, liberada pelo Comando Geral da Polícia Militar, a tenente estudou uma temporada no Colégio Militar do Exército, em Brasília, e fez também cursos no Corpo de Bombeiros e na Polícia Militar do Distrito Federal, obtendo a pós-graduação em segurança pública e direitos humanos; ingressou em gestão ambiental, fez mestrado em desenvolvimento regional na área de políticas públicas, e agora faz gestão de aprendizagem.

Não teria êxito em tudo o que fez, se em 2013 não desse conta da missão que lhe fora confiada no 5º Batalhão da PM de Rondônia, na zona Leste de Porto Velho. “Ali aprendi muito da vida, do amor ao próximo, das desgraças e das agruras do ser humano. Da linha tênue existente para crianças e adolescentes que, por muitos motivos, perdem cedo a capacidade de sonhar com um futuro melhor, que vença situações de abandono, e carências de base”.

O trabalho da tenente PM Ossuci foi no Setor 16 [bairros Airton Senna, Cidade Jardim, Ulisses Guimarães, Marcos Freire, Porto Cristo, Renascer e Ronaldo Aragão]. Nos 34 mil quilômetros quadrados de área do município [que supera as áreas de Alagoas e Sergipe, individualmente], esse setor se destaca, pois abrange também os municípios de Candeias do Jamari, Itapuã d’Oeste e os distritos de Jacy-Paraná, União Bandeirantes, Vila Nova Mutum e Triunfo.

Quando chegou ao Colégio Militar de Jacy, inaugurado em 8 de fevereiro de 2014, e por ela dirigido desde 2013 (quando era a Escola dos Sonhos), a diretora se ctpm2deparou com meninos com expectativa de serem jogadores de futebol e meninas se contentando apenas em concluir o Ensino Médio.

“Os meninos se contentavam em fazer bicos, não se preocupavam com vestibulares. A faculdade ficava distante. A situação hoje é outra, e um deles me surpreendeu ao mostrar que quer estudar engenharia mecatrônica ou curso de pilotagem de jato”, relatou.

Erika fiscalizou obras de construção e ajudou na parte pedagógica. Fez esse trabalho enquanto enfrentava a vulnerabilidade a que a maioria se expunha, diante do tráfico de drogas, casos de prostituição e desestruturação familiar.

“Abracei a causa, participei da escolha de cada móvel e fui o elo entre a PM, a Seduc [Secretaria de Estado da Educação] e o governo estadual”, conta orgulhosa.

Alunos têm atividades nas áreas biológica, hortícola e de jardinagem

No contraturno, o colégio oferece aulas e recreação com xadrez, futsal, vôlei, atletismo, jiu-jitsu, e incursiona nas áreas biológica, hortícola e de jardinagem. Incentiva a construção de horta com figuras geométricas e orquidário. E na segunda fase os alunos levarão o projeto de hortas para suas próprias casas.

Paranaense, de Mandaguari, de onde saiu menina, Erika tem dois filhos: Irene, 2 anos; e Bruno, 10.

Oitocentos alunos com idades entre dez e 18 anos estudam no Colégio Tiradentes de Jacy, em dois turnos. O primeiro ano letivo causou impacto à população do distrito. Segundo a tenente, havia algum receio em relação ao rigor disciplinar.

Hoje, o colégio é exemplo de disciplina, cidadania e pró-atividade. Em 2015, obteve o 2º lugar na Feira de Robótica da Seduc e o prêmio de melhor redação da 17ª Brigada de Infantaria de Selva. Neste ano, já foi premiado no concurso de redação da Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia (Caerd), e enviará alunos ao Rio de Janeiro para participar das Olimpíadas de Astronomia e Aeronáutica.

Há duas semanas, 23 alunos disputaram o campeonato de jiu-jitsu em Rolim de Moura, conquistando 19 medalhas.

O QUE MUDOU

Algumas respostas de alunos a perguntas sobre o motivo pelo qual escolheram o Colégio Militar em 2014: por causa da enchente; para adquirir conhecimento; meus pais me matricularam, porque é uma escola organizada, onde não há brigas; é o melhor colégio da região; porque quero um futuro melhor e de verdade; a educação é melhor, tem regras e é rígida, exemplar.

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Respostas ao questionário de 2016: no começo eu não queria; minha mãe decidiu me colocar aqui porque tem disciplina e aprendizado; para aprender e futuramente ser um profissional igual aos que trabalham aqui; para melhorar minha postura e aprender com qualidade; um colégio diferenciado; mudei de cidade e vi que a única escola com estrutura boa é essa; porque quero ser PM; gosto da doutrina do colégio; minha irmã falava da biblioteca e eu adoro ler.

O comportamento dos alunos vem mudando, e a diretora não tem dúvida em dizer que o colégio representou para Jacy “um divisor de águas”.

Alunos pedem licença para entrar nas salas da coordenação e da direção, controlam o tom de voz, pedem permissão para falar, cuidam mais das palavras, reconhecem falhas e sabem apreciar elogios.

“Essa cobrança de comportamento estendeu-se ao ambiente externo, e até em casa eles já são diferentes”, observa a diretora.

A cada semana, um chefe de turma é escalado para a limpeza da sala de aula. Ganha a denominação de xerife. “Um comanda, dois auxiliam, todos trabalham, e com isso já aprenderam a auxiliar as mães na limpeza de casa, diminuindo-lhe a sobrecarga”, relata.

Segundo a diretora, nas ruas, quando pessoas notam algum comportamento inadequado de alunos, logo comunicam à escola. “São notados e respeitados”.

Ao reclamarem de qualquer situação, os alunos procuram o CA [Corpo de Alunos], similar à secretaria escolar, onde são resolvidas questões disciplinares. Boletins revelam notas, méritos e deméritos, assim, os pais conhecem notificações da pontuação por comportamento. “Nas anormalidades, os pais são chamados na hora”.

O bom são os prêmios para quem andar “na linha”: passeios, vagas em estágios, matrículas garantidas em projetos escolares.

Depois de muitos anos dispensada em grande parte das escolas da rede pública, o momento cívico é indispensável no Colégio Militar em Jacy. Diariamente os alunos cantam hinos diferentes e hasteiam as bandeiras brasileira, do estado e do município.

Na alagação de 2014, devido à cheia do rio Madeira e afluentes na região, não foi preciso suspender as atividades. Alunos foram transportados de barco e vans. “A única escola que teve aulas normalmente foi a nossa”, conta a tenente.

O QUE NÃO PODE

Além da restrição ao telefone celular, alunos não entram de piercing, meninas usam maquiagem leve e esmalte claro, cortam unhas regularmente, brincos não ultrapassam o lóbulo da orelha.

Anteriormente, usavam camiseta branca, calça jeans básica, meia branca e até chinelos. Hoje, às segundas e sextas-feiras meninas vestem saias cor chumbo, blusa branca com gola polo vermelho, sapato ou sapatilha e meias brancas. Às terças, quartas e quintas, calça social.

Texto: Montezuma Cruz – Fotos: Daiane Mendoça e Colégio Militar. Secom – Governo de Rondônia.

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Jornalista Lenilson Guedes

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