‘‘Aos pouquinhos eu fui juntando o meu time, professores excelentes imbuídos na missão. Aqui dá certo porque eles têm o mesmo objetivo que eu. Eles se importam realmente com os alunos, querem ver a diferença acontecer. Para a gente é motivo de honra. Os policiais são extremamente dedicados ao que fazem, gostam da escola, gostam dos alunos. Se você chega a um local com o propósito de ajudar, você vai ser bem recebido, respeitado’’, avalia a diretora do colégio, tenente da Polícia Militar de Rondônia Erika Ossuci.
O colégio começou as atividades em 2014. ‘‘Chegamos naquele turbilhão de Jacy-Paraná com índices altíssimos de consumo e venda de drogas, a prostituição infantil era muito assustadora’’, lembra. E foi neste contexto que muitos servidores aceitaram o desafio que mais que construir um projeto pedagógico, transformar a realidade social da localidade.
O sargento Ivanildo Ferraz Lima é monitor do colégio há quase quatro anos. ‘‘Eu trabalhei por sete anos na escola militar de Porto Velho, aqui encontrei alunos mais simples, mais carentes. No começo tinha brigas, tivemos uma semana tensa. A secretária ouviu um grupo de aluno falando que no outro dia haveria briga entre alunos e inclusive iriam trazer uma faca, mas antes de chegar a essa situação nós já intervimos e verificamos que aluno estava com uma faca realmente. Quatro dias depois, outro aluno trouxe um canivete, mas nós fomos explicando que violência não leva a nada’’.
E os alunos entenderam o recado. ‘‘Está gostoso trabalhar hoje aqui no colégio. É uma satisfação muito grande, a gente sai com a cabeça aliviada, antes saíamos com a cabeça pesada de tanta preocupação. Antes quando a gente chamava a atenção deles eram até agressivos com os monitores, agora isso não acontece mais’’, afirma o sargento Ferraz.
A sargento Ilsa Tavares da Silva está na PM desde 89 e conta como mudou a forma de enxergar as pessoas como monitora do colégio. ‘‘Quando a gente trabalha na rua você vê mais o lado errado das coisas, e aqui nos dois primeiros meses foram bem complicados, mas a gente vai se adaptando e enxergando que existem mais pessoas melhores que piores’’, garante.
A secretária da escola Aline Alves conta que chegou ao distrito em um dos piores cenários. ‘‘Quando eu vim para cá em 2009, estavam construindo as usinas, e aqui teve muita prostituição, meninas de 13,14 anos se prostituindo. Aí a escola chega causando impacto porque tem regras, um educação forte, então eu vejo que melhorou muito. As famílias estão se aproximando mais da escola’’, acredita.
Professores apontam que trabalho é feito com mais satisfação em um colégio que tem disciplina
Para a professora de geografia Maria Luzia Ferreira Santos, a escola realmente consegue causar impactos positivos no público escolar e na comunidade. ‘‘É uma escola que realmente traz um diferencial para a comunidade devido aqui ter toda uma situação peculiar das consequências que as usinas trouxeram, então a escola tem conseguido transformar essa realidade. Toda essa disciplina que a escola impõe interfere de forma positiva em nosso trabalho’’, avalia.
Já a professora de história e filosofia Klycia Mota destaca o resgate de valores que encontrou no colégio. ‘‘O que me motiva a dar aulas nessa escola é a disciplina porque aqui os alunos honram os professores como honravam antigamente. Além da direção incentivar aulas diferenciadas. São aulas lúdicas, mais elaboradas’’.
Para a vice-diretora do colégio, colocar em prática esse modelo educacional diferenciado é desafio gratificante. ‘‘Nós tínhamos uma comunidade difícil de lidar em termo de consumo de drogas, prostituição e tínhamos que trabalhar isso no pedagógico. E em tão pouco tempo, menos de quatro anos, a estrutura da escola proporciona que alunos sejam transformados’’, avalia Claudenice Ambrósio.
Professora de Língua Portuguesa, Ester Escoriça Mariano Barbosa destaca o contentamento em fazer parte do colégio. ‘‘Em outras escolas muitas vezes nós temos dificuldade devido à indisciplina. Nos deparamos com situações que ficamos de mãos atadas. Aqui é uma experiência única onde eu realmente posso exercer a minha profissão. Mais de 22 anos de profissão e agora estou me sentindo realizada. Agora eu consigo dar aula porque temos disciplina, apoio da equipe pedagógica e da tenente’’, afirma.
A professora também rebate as críticas ao modelo educacional do colégio militar. ‘‘Eu ouço muitas críticas em relação ao modelo, mas eu vejo que é uma alternativa porque infelizmente nós chegamos a esse ponto. A violência chega primeiro nas famílias e depois vem parar nas nossas mãos. Em alguns bairros precisam sim colocar escolas militares porque o professor não pode trabalhar, é ameaçado, não pode avaliar o aluno como ele deveria ser avaliado a gente sente uma insegurança. Muitos professores estão pedindo socorro, pedindo que isso realmente venha a acontecer para que nós possamos está contribuindo com a sociedade’’.
RESGATE
Para a professora de Ciências e Biologia Maria do Socorro Ferreira Nunes, o trabalho feito pela escola ajuda a resgatar crianças e jovens do distrito. ‘‘Cada professor que chega aqui se sente entusiasmado para contribuir com o desenvolvimento de uma sociedade mais justa. Nós temos alunos aqui oriundos da zona rural, da área urbana que vivenciam os mais variados problemas e o trabalho que a gente faz aqui é tentar reduzir todas essas diferenças que possam existir e aqui nós temos projetos voltados para a sexualidade na adolescência, para o desenvolvimento econômico das famílias, vários projetos para que esses alunos percebam que existe outro caminho’’, aponta.
Marcha e hino nacional fazem parte da rotina dos estudantes
A merendeira Eliete Lima dos Santos de Souza também acredita no poder transformador do colégio. ‘‘Aqui os professores são excelentes, além de me dar emprego, aqui eu vejo a educação avançando e por conta disso eu decidi ficar’’. Os impactos positivos do colégio são defendidos pela professora de química Ailnete Mário do Nascimento. ‘‘Um impacto bom quando cheguei aqui foi encontrar salas com poucos alunos porque geralmente me deparava com aquelas salas volumosas. Com menos alunos, você pode acompanhar seu aluno de perto, muito diferente de uma escola com 40 alunos que era a minha realidade’’.
‘‘Aqui eles cantam o hino nacional. Eu pensava que nunca mais ia ver isso na minha vida. Para mim foi uma felicidade gigantesca’’, considera Ailnete.
O envolvimento dos alunos com as atividades extraescolares é outro diferencial. ‘‘É gratificante trabalhar em uma escola militar porque tem disciplina. Os alunos têm liberdade de comandar e eles têm prazer de ajudar a gente. Aqui na supervisão o ensino médio vem para trabalhar o reforço do fundamental. Eles preparam as aulas junto comigo e dois professores, eles não vem só estudar, vem para auxiliar. É gratificante trabalhar onde você pode construir seus projetos, afirma a supervisora Cleusa Ferreira Dias.
A secretária Jane Trigueiro da Silva disse que os pais costumam ser participativos. ‘‘ Os pais procuram muito a escola, gostam do trabalho que é feito com os filhos deles. Não só a parte escolar, mas disciplinar’’. Para a professora de matemática Zelinda Aparecida Miranda, o colégio é a escola dos sonhos dos professores.
‘‘Eu queria uma escola em que eu pudesse chegar a dar aula, ter realmente a atenção dos alunos e nessa escola a gente consegue fazer esse trabalho. Se tem algum problema tem como mandar para a orientadora, eles chamam os pais, a tenente conversa com eles e resolve. É muito bom dar aula aqui’’.
Texto: Vanessa Moura
Fotos: Bruno Corsino
Secom – Governo de Rondônia
Jornalista Lenilson Guedes